O rei dos vinhos, o vinho dos reis

Os vinhos Tokaji (pronuncia-se "tocai"), da Hungria, são famosos pelo sabor e pela longevidade, sendo considerados entre os melhores vinhos do mundo! Se você ainda não os conhece, chegou a hora! Uma das preferências das cortes reais europeias nos séculos 18 e 19, foi batizado por Luís XIV como “o rei dos vinhos, o vinho dos reis”.

A Hungria, assim como boa parte do mundo, viveu um duro período de pós-guerra, na segunda metade do século 20. A produção de vinhos Tokaji ficou praticamente estagnada durante esses anos, mas, após a queda do regime comunista no país, em 1989, algumas vinícolas húngaras decidiram resgatar o Tokaji da obscuridade.

O húngaro é uma das únicas línguas europeias que têm a sua própria palavra para “vinho”, sem ser derivada do latim: “bor”. Isso evidencia o contato com uvas e vinho mais de mil anos atrás. Com clima e o solo perfeitos para a produção de vinho, este pequeno país abrange 22 regiões vinícolas.

Tokaj, ou Tokaj- Hegyalja (colinas de Tokaj), a região vinícola mais famosa da Hungria, foi oficialmente declarada Patrimônio da Humanidade em 2002, pela UNESCO. A três horas de distância de Budapeste, Tokaj foi o berço do primeiro sistema de classificação de vinhedos do mundo inteiro, em 1772.

Esse vinho tem tanta importância para o país, que é mencionado até no hino nacional da Hungria. De Virgínia Wolf a Alexandre Dumas, o Tokaji foi citado em inúmeras obras, incluindo “O Fantasma da Ópera”. Se você assistiu ao filme “Amadeus Mozart”, é possível ver que a garrafa na mão dele é de um Tokaji.

A adição de uma letra “i”, ao final, transforma o substantivo “Tokaj” (nome da região e da sua principal cidade), no adjetivo “Tokaji”. Por isso, o correto é “os vinhos Tokaji, da região de Tokaj”. Também é possível encontrar a grafia “Tokay”, mas essa forma, comum na Inglaterra, está cada vez mais obsoleta na Hungria.

As atividades vulcânicas do passado conferiram ao solo de Tokaj uma mineralidade incrivelmente rica, que pode ser sentida em seus vinhos.

As três principais variedades de uvas de Tokaj são Furmint, Hárslevelû e Sárga Muskotály. Mas existem outras três variedades também autorizadas: Zeta, Kövérszõlõ e Kabar, e experimentos estão em andamento para reintroduzir Gohér, uma cepa quase extinta.

No outono, a combinação entre a névoa da manhã, e as tardes ensolaradas, cria condições ideais para a podridão nobre.  Este é o momento que o fungo Botrytis Cinerea ataca as uvas, perfurando sua pele. Os frutos exalam água e murcham, atingindo níveis de concentração extrema. Estes bagos botritizados, ou aszú, como são chamados em húngaro, adquirem características únicas, como aromas específicos e um incrível equilíbrio entre doçura e acidez.

A história mítica conta que, por volta de 1650, os habitantes locais perderam a época da colheita, pois estavam abrigados, protegendo-se dos turcos. Ao retornarem, resolveram produzir vinho mesmo com as uvas enrugadas, tendo passado do período considerado o ideal de maturação. Mas evidências mostram que a tradição da produção dos vinhos Tokaji tem mais de 1000 anos, o que torna essa versão improvável.

Os estilos de vinho de Tokaj podem ser resumidos da seguinte forma:

Száraz, vinhos secos produzidos a partir de uvas não afetadas pelo fungo Botrytis cinerea.

Szamorodni, vinhos de colheita tardia, feitos a partir de uvas parcialmente botritizadas. Podem ser secos (Száraz Szamorodni), com uma picante acidez, ou doces (Édes Szamorodni), harmônicos e elegantes.

Aszú, vinhos produzidos com uvas botritizadas, colhidas e selecionadas individualmente (Tokaji Aszú, Tokaji Eszencia, Fordítás, Máslás). Aszú é o estilo responsável pela fama da região de Tokaj, com um método de vinificação totalmente original, que adiciona uvas com elevado grau de podridão nobre ao vinho de base, e um amadurecimento mínimo de 3 anos em barril.

Os vinhos Aszú recebem, ainda, uma classificação numérica de acordo com a quantidade de açúcar residual (ou seja, não fermentado):

 Aszú 3 Puttonyos - 60 a 90 g de açúcar residual por litro

Aszú 4 Puttonyos - 90 a 120 g de açúcar residual por litro

Aszú 5 Puttonyos - 120 a 150 g de açúcar residual por litro

Aszú 6 Puttonyos - 150 a 180 g de açúcar residual por litro

Aszú Eszencia - 180 a 450 g de açúcar residual por litro

Tokaji Eszencia - 450 a 850 g de açúcar residual por litro, mais doce e mais concentrado que o mel, com uma persistência aromática praticamente sem fim

A palavra Puttonyo refere-se ao recipiente utilizado para a colheita de uvas botritizadas. Cada Puttonyo contém cerca de 25 kg de uvas, e o número refere-se à quantidade de Puttonyos para cada barril de 136 l de vinho de base.

Maior a classificação, maior a concentração, a complexidade e o equilíbrio, complementados com aromas de chocolate, caramelo e creme brulé, com um potencial lendário de envelhecimento.

Esse é o vinho de maior longevidade. O Tokaji Eszencia é considerado praticamente imortal, podendo ser armazenado por mais de dois séculos! Por esta razão, garrafas do século 18 e 19 são muito procuradas por colecionadores, sendo comercializadas por valores astronômicos!

Curiosidade: o Imperador Franz Josef, antigo rei da Hungria, tinha como tradição presentear a Rainha Victoria com vinho Tokaji Aszú, em todos os seus aniversários: uma garrafa para cada mês que ela tinha vivido, mais doze garrafas para cada ano completo de vida. Em 1900, seu 81º e último aniversário, ela recebeu impressionantes 972 garrafas!

Quer um conselho? Dê esse prazer a si mesmo, experimentando esse néctar dos deuses, ou melhor, esse néctar dos reis! 

Dica de harmonização? Queijos azuis, como Roquefort e Gorgonzola, presunto cru, ou sobremesas em geral.

 




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